Quando me perguntam, porém, como aprendi a ler, quais os métodos, quais as regras, não posso responder porque não guardo a menor lembrança. […] Desde pequenina eu era louca por narrativas, e toda quarta-feira chegava em casa o Tico-tico, revista infantil publicada no Rio de Janeiro; eu a aguardava ansiosa e folheava para ver as figuras, até que um dos adultos tivesse um momento para ler-me as histórias. Pois um dia, ao olhar, na última página, os quadrinhos em que se pavoneavam o loiro Chiquinho, e o pretinho Benjamim, com o cachorro Jagunço, li o que estava embaixo de cada quadrinho! Muito espantada, corri para mamãe, que estava costurando à máquina, para quem fiz a extraordinária demonstração. Ela não conseguia acreditar; abriu outra página ao acaso e lá fui tropeçando nas sílabas, lendo enroladamente as palavras, mas lendo! E quando papai voltou do trabalho, à tarde, nova demonstração em páginas ainda desconhecidas. Sabia perfeitamente que esta descoberta deliciosa, que me livrara da espera dos adultos para conhecer o que estava escrito, era proveniente daqueles momentos longos e enfadonhos na sala de aula, ouvindo distraidamente ensinamentos que não me eram diretamente endereçados, ou então fazendo desajeitados rabiscos que a mestra olhava com desânimo. Por que magia tal acontecera? Mistério! Os dias passados na Caetano de Campos adquiriram então outro sentido, outro atrativo.Talvez proviesse do saber ler, esse achado mirabolante, a predileção que desenvolvi a partir de então pelo brincar de escola, que eu propunha incansavelmente a irmãos e primos – os alunos, naturalmente! –, que em geral o repeliam com vigor." Maria Isaura Pereira de Queiroz* No meu primeiro dia na escola, ficou gravado em minha memória, o momento em que cheguei com meus pais e fui levada para a sala. Estava um alvoroço, tanta gente, adultos falando alto, crianças chorando. Eu entrei fui apresentada à professora. Era um colégio de freiras e a professora era Sra. Helena. Meus pais foram embora, fiquei quieta, esquecida em um canto da sala, acho até que chorei, me senti perdida. Com o tempo não me lembro do processo, mas lembro que me adaptei e guardei algumas passagens que considero pertinentes para o momento. Minha professora dividia a turma em três colunas: duas filas no canto esquerdo da sala ficavam os alunos classe "C" (fracos), no meio os classe "A" (fortes) e no lado direito os alunos classe "B" (médios). Eu ficava mais na coluna da direita, isso ficou tão forte que só consegui me libertar na 8ª série. Uma outra coisa que me ficou gravado, no final do dia nós fazíamos uma fila com a mão estendida para a professora e ela ia escrevendo um número na nossa mão, representando a nota do dia, para mostrar aos pais. Quando eu tirava nota baixa, fechava tanto as mãos, suava tanto que quando papai vinha me buscar o número estava quase apagado. Minha sorte era que meus pais não se ligavam nessa estratégia da irmã. Tinha um momento do dia em que a Sra. Helena; ia chamando aluno por aluno para ler a cartilha, até hoje me lembro perfeitamente como ela era.A professora pedia que disséssemos o alfabeto que estava impresso na contracapa da cartilha, para depois passar para as lições. Porém tem um fato que eu gostava muito, era na hora do recreio. A Irmã ia para o pátio, brincava de roda, de estátua, de bola, era uma farra, essa era a melhor hora do colégio, era tão boa que quando a gente passava para a 1ª série íamos brincar junto com a Irmã na turma da pré-escola. Professora Séfora Maria Farias Maceió-AL