Por que foi permitido o pecado? 11
vozes, o espírito do mal pareceu subjugado; indizível amor fazia
fremir todo o seu ser; em concerto com os adoradores destituídos de
pecado, expandia-se-lhe a alma em amor para com o Pai e o Filho.
De novo, porém, achou-se repleto de orgulho por sua própria glória.
Voltou-lhe o desejo de supremacia, e uma vez mais condescendeu
com a inveja de Cristo. As altas honras conferidas a Lúcifer não
eram apreciadas como um dom especial de Deus, e, portanto, não
provocavam gratidão para com o seu Criador. Ele se gloriava em
seu brilho e exaltação, e almejava ser igual a Deus. Era amado e
reverenciado pelo exército celestial, anjos se deleitavam em executar
suas ordens, e estava ele revestido de sabedoria e glória mais do que
todos eles. Contudo, o Filho de Deus era mais exaltado do que ele,
sendo um em poder e autoridade com o Pai. Partilhava dos conselhos
do Pai, enquanto Lúcifer não penetrava assim nos propósitos
de Deus. “Por que”, perguntava este poderoso anjo, “deveria Cristo
ter a primazia? Por que é Ele mais honrado do que Lúcifer?”
Deixando seu lugar na presença imediata do Pai, Lúcifer saiu a
difundir o espírito de descontentamento entre os anjos. Ele agia em
misterioso segredo, e durante algum tempo escondeu seu propósito
real sob uma aparência de reverência para com Deus. Começou
a insinuar dúvidas com respeito às leis que governavam os seres
celestiais, dando a entender que, conquanto pudessem as leis ser
necessárias para os habitantes dos mundos, não necessitavam de
tais restrições os anjos, mais elevados por natureza, pois que sua
sabedoria era um guia suficiente. Não eram eles seres que pudessem
acarretar desonra a Deus; todos os seus pensamentos eram santos;
não havia para eles maior possibilidade de errar do que para o próprio
Deus. A exaltação do Filho de Deus à igualdade com o Pai, foi
representada como sendo uma injustiça a Lúcifer, o qual, pretendiase,
tinha também direito à reverência e à honra. Se este príncipe
dos anjos pudesse tão-somente alcançar a sua verdadeira e elevada
posição, grande bem resultaria para todo o exército do Céu; pois era
seu objetivo conseguir liberdade para todos. Agora, porém, mesmo
a liberdade que eles até ali haviam desfrutado, tinha chegado a
seu fim; pois lhes havia sido designado um Governador absoluto, e
todos deveriam prestar homenagem à Sua autoridade. Tais foram os
erros sutis que por meio dos ardis de Lúcifer estavam a propagar-se
rapidamente nos lugares celestiais.
12 Patriarcas e Profetas
Não tinha havido mudança alguma na posição ou autoridade de
Cristo. A inveja e falsa representação de Lúcifer, bem como sua pretensão
à igualdade com Cristo, tornaram necessária uma declaração
[12] a respeito da verdadeira posição do Filho de Deus; mas esta havia
sido a mesma desde o princípio. Muitos dos anjos, contudo, ficaram
cegos pelos enganos de Lúcifer.
Tirando vantagem da amável e leal confiança nele depositada
pelos seres santos que estavam sob suas ordens, com tal arte infiltrara
em suas mentes a sua própria desconfiança e descontentamento
que sua participação não foi percebida. Lúcifer havia apresentado
os propósitos de Deus sob uma luz falsa, interpretando-os mal e
torcendo-os, de modo a incitar a dissensão e descontentamento. Astuciosamente
levou os ouvintes a dar expressão aos seus sentimentos;
então eram tais expressões repetidas por ele quando isto servisse
aos seus intuitos, como prova de que os anjos não estavam completamente
de acordo com o governo de Deus. Ao mesmo tempo em
que, de sua parte, pretendia uma perfeita fidelidade para com Deus,
insistia que modificações na ordem e leis do Céu eram necessárias
para a estabilidade do governo divino. Assim, enquanto trabalhava
para provocar oposição à lei de Deus, e infiltrar seu próprio descontentamento
na mente dos anjos sob seu mando, ostensivamente
estava ele procurando remover o descontentamento e reconciliar
anjos desafetos com a ordem do Céu. Ao mesmo tempo em que
secretamente fomentava a discórdia e a rebelião, com uma astúcia
consumada fazia parecer como se fosse seu único intuito promover
a lealdade, e preservar a harmonia e a paz.
O espírito de descontentamento que assim s